Conhecendo o Nilton.
No dicionário Houaiss (2008), a vida é: "Período entre
nascer e morrer; modo de viver". Na descrição é bonito, mais e na prática?
Como vivemos?
A
vida é tão bela, tão protagonista de si que falar dela nos causa até desânimo,
pois na prática muitas das vezes é duro viver. E já pensarão como uma criança
pensa sobre viver? O que é viver para elas? É uma oportunidade única, é
aproveitar cada dia. Já perceberam elas brincando, tudo elas aproveitam, se um
brinquedo está quebrado não jogam fora, aproveitam um boneco (a) sem braço e
pernas e vão brincar.
E como vemos a vida,
nós adultos? O trabalho é necessário, mas e aproveitar a nossa vida? Como
estamos aproveitando? A gente só pensa no que é a vida, quando nos
deparamos com situações difíceis.
O Nilton Junior é um menino muito
lindo, não porque ele é o meu filho, mais ele é especial, eu demorei muito a
perceber o quanto ele ilumina a minha vida.
Quem é Nilton Junior?
Quando
eu descobrir que estava grávida dele, me surpreendi, meu primeiro filho estava
com dois anos, eu ainda estava terminando o ensino médio (2º ano). Os meus
estudos estavam atrasados por ter engravidado terminando a antiga 8º série,
hoje o 9° ano.
É
bom deixar claro que eu nunca me arrependi de ter esses lindos em minha vida,
ao contrário sem eles eu não sei qual seria o sentido da minha vida. Mas não
estava preparada para mais um filho, por conta dos estudos. Eu não fiquei
triste pela chegada do Nilton, ao contrário dei uns pulinhos entre a sala e o
quarto com o exame da farmácia na mão mostrando para o meu esposo.
Quando eu fiz a ultrassonografia já
estava com quatro meses de gravidez. E no mesmo dia ficamos sabendo do sexo,
antes mesmo de abrir a boca ao telefone o meu esposo falava:
- Eu não disse que seria um Nilton!
(risos). Eu estava animada, mas preocupada com os estudos e como seria daqui
pra frente com dois bebês.
O Nilton Junior veio para
causar, sabe aquela criança que mexe com todo mundo, que tem um jeito só dele.
Esse é o Nilton Junior, ele é sério, mais quando você o conhece não quer
desgrudar. Ele nasceu no momento mais difícil da minha vida e do meu esposo.
Estávamos desempregados, eu estudando e tomando conta do meu mais novo, meu
esposo procurando emprego, mais parecia que uma nuvem tinha pairado sobre a
gente, mas sempre tem uma luz no fim do túnel. Sempre firme na fé, pensava: vai
dá certo, pois Deus está com a gente, nunca critiquei a Deus por nada, sempre
estava ali orando e pedindo para ele não se esquecer de mim, dos meus filhos e
do meu esposo.
Ele nasceu um bebê
lindo, quase seis quilos, 52 centímetros, um bebê lindo e grande. Há tão
cabeludo, acredita que ele tinha cabelos até nas orelhas e nas costas. Porém,
infelizmente com dez dias de vida ele teve bronquiolite, e o umbigo dele
inflamou. Crianças com sete dias o umbigo já caiu, mas o do Nilton não caiu, ao
contrário inflamou.
A minha experiência com meu
primeiro filho foi totalmente diferente, o meu mais velho quase não teve
cólicas, catapora umas cinco bolinhas espalhadas. Já o Nilton, ele teve
cólicas, chorava muito, catapora por todo o corpo com 6 meses de vida, alergia
e foi internado com dez dias de vida. Eu parecia uma mãe de primeira viagem, só
pra ressaltar que o meu mais velho estava com dois anos, à diferença era bem
pouca do Igor (meu filho mais velho) para o Junior. Então não era para eu está
tão perdida com o segundo filho. Mas nada é igual. Porém eu estava muito
perdida, no dia que o Nilton ficou internado a pediatra da emergência me deu um
grito:
- Mãe, porque
não o trouxe antes? Um bebê dessa idade não é permitido tomar xarope.
Eu não sabia se chorava por
vê meu filho sofrendo daquele jeito, ou da médica gritando comigo como se eu
fosse à culpada. E não era mesmo! O Nilton estava sendo acompanhado pelo posto
de saúde, perto da minha casa. Ele fez as primeiras consultas, e estava tudo
bem com ele. Depois de uns nove dias ele começou a ficar com o nariz com
secreção, levei no posto e falei com a pediatra dele, ela passou um xarope e
disse que poderia dá para ele. Eu não sabia que ele teria alergia e dei pra
ele, a quantidade certa, no mesmo dia. E no dia seguinte ele não conseguia
respirar, chorava e começou a ficar com manchas vermelhas no corpo. Eu como mãe
não adivinharia jamais que isso poderia acontecer.
Internado pela primeira vez,
dez dias, era um mundo novo e assustador, Encontrar acesso no bebê é muito
difícil, ele chorava muito, era de arrancar o coração quando ele perdia o
acesso, eu não imaginava que passaria por isso. O primeiro dia ele foi
para o UTI, meu coração foi não sei onde, chorei e pedi muito para Deus salvar
meu filho. Ele só tinha dez dias de vida, não aproveitou nada da vida. Nem
aprendeu a falar mamãe, papai, brincar com o irmão. Chorei e pedi:
- Senhor, por
favor, salva o meu Niltinho.
Acreditem, com menos de dois dias ele saiu
da UTI. Graças a Deus! O médico veio e me disse:
- Mãe o seu filho tem
sopro no coração, e infelizmente vai ser dependente da bombinha de asma. Não
vai poder correr entre outras coisas.
Os médicos falam numa
frieza, eu até entendo o motivo deles serem assim. Era muita coisa pra digerir,
não chorei me segurei, pois ainda estava digerindo a notícia, o cérebro ainda
estava processando a mensagem. Eu olhei para o médico e fiquei calada, eu não
poderia dizer que ele estava mentindo é o médico. Eu saí da sala do médico
atordoada, sem entender o que eu estava fazendo ali. Pensar nessa hora não dá,
a gente vai processando as coisas.
Eu
fui até incubadora onde ele estava (A maior incubadora que tinha, pois
ele era grande, e todas as enfermeiras o mimavam por ser o bebê grande), ele
dormia. Toquei no pezinho dele e mais uma vez pedi socorro a ELE, Deus. Ali
chorei calada, só as lágrimas desciam. Ele era tão lindo, tão cheio de vida, tão
pequeno e com tantas coisas para fazer, um mundo novo para descobrir, seria
muito triste pra ele.
- Senhor, por favor,
eu te rogo olha pelo meu filho, peço que interceda por mim Maria mãe de Jesus,
ao teu filho que Ele possa olhar pela vidinha do Nilton.
No outro dia, vieram o
médico e a enfermeira, fizeram o exame do coração e graças a Deus não
tinha nada de sopro. Eu sempre estive calma, claro que chorar faz parte, sou
humano, mas questionar, ficar com raiva e descontar nas pessoas não
mudaria a situação, o jeito era ficar calma e confiar que tudo é possível.
Ele recebeu alta, fomos para
casa. Casa, melhor lugar não existe do que a nossa casa. Ele teve algumas
recaídas da bronquiolite, mais graças a Deus não precisou da bombinha, corria,
jogava bola, tomava banho de chuva. Uma criança normal. Com as pirraças, e
sempre foi um menino decidido era o que ele queria e pronto aí se não fosse
assim.
Quando ele fazia pirraça eu
pegava uma cadeirinha que ele ganhou e colocava-o sentado, explicava o motivo
dele ficar ali sentado por pequenos minutos. Eu o deixava no quarto, e como a
cozinha era bem próxima dava para dá uma olhada nele. Era eu virar as costas
que ele saia da cadeira, e ria. Eu voltava e colocava-o de novo. Outra vez eu
briguei com ele não recordo o motivo. Observação: têm alguns brinquedos que são
umas armas para as crianças, como os carrinhos da hot wheels. Eles
tinham muitos desses carrinhos, e nesse dia, um desses carrinhos virou uma
arma. Acredita que ele por pirraça pegou esse carinho e tacou em mim, o azar
foi que acertou no meio da minha testa.
Ele sempre foi assim, uma
benção do senhor, mais era muito carinhoso também. Eu sempre disse para os meus
filhos o EU TE AMO. Para o Nilton era assim:
- Junior eu posso te contar um
segredo, mas não conta para ninguém.
- Tá bom mãe, conta o segredo.
- Eu te amo.
A minha vida estava
completa, com meus três amores. Meu esposo, e meus dois filhos. As outras
coisas na vida financeira eu sei que um dia viria. E fui aproveitando cada fase
dos meus filhos. E o Nilton, cresceu hoje com seus 11 anos. Desde pequeno ele
sempre falava o que sentia e se ele não gostasse de você ele falava na sua
frente. Sobre a vida? Eles me ensinam muito, eu aprendo mais com eles do que
comigo mesmo.
Eu achei que tudo estava
perfeito, que assim que terminasse o ensino médio faria uma faculdade e depois
iria ter o tão sonhado emprego, mais sonhar é bom, com os pés no chão. E tem
coisas que acontecem na nossa vida que é um aprendizado de fé.
Hoje o Nilton Junior é
muito especial, forte e meu exemplo de vida. Ele me mostra a cada dia que veio
para esse mundo causar sentimentos bons, nos mostrar o valor da vida. Quando a
gente (eu, meu esposo, Nilton e Igor) descobrimos o câncer foi dias, semanas,
meses assustadores, dias de choros de incertezas, mas Deus sabe de todas as
coisas, é Nele que eu estou me agarrando.
Hoje estamos mais
unidos e aproveitando cada momento, amanhã não sabemos dele. A vida é um sopro,
hoje estamos aqui, pode acontecer tantas coisas na nossa vida, por isso ame
muito quem está com você, seus pais, irmãos, filhos, sua família e amigos, e
viva, como o Nilton fala pra mim:
-Viver é aproveitar enquanto estamos
vivos, poder sonhar e amar.
Nilton é uma pessoinha que
Deus me deu e sei que muitas coisas boas irá acontecer na vida dele. Estarei do
ladinho dele, amando e cuidando, como eu falo pra ele que estamos juntos pro
que dê e vier. Hoje ele tem 11 anos, fala o que pensa, reclama, pergunta
para Deus o motivo de tê-lo escolhido para passar por esse
processo. Eu falo para ele que por ele ser uma pessoa especial, Deus o
escolheu.