quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Uma nova forma de vê a vida.

   Nada como um dia após o outro.




E veio o câncer, e agora?
   A vida nos prega peças!  Não sei dizer o certo se é a vida ou o destino. Vivíamos bem antes do diagnóstico do câncer. Mas o que seria viver bem? 
    Eu estava terminando a faculdade com o apoio do meu esposo, que sempre me ajudou me dando forças pra não desistir de estudar. Pois ás vezes o desanimo batia e me dava  vontade de desistir. Ele sempre  esteve ali comigo. Animando-me, não só ele como as crianças também me apoiava e davam-me forças.
    Quando finalmente estava quase concluindo a faculdade. Sabe aquele frio na barriga, então, eu sentia quando pensava:  O que vai acontecer  depois que eu terminar? Vou trabalhar? Será que vai demorar a chegar  um emprego? Animadamente me dediquei à faculdade, fazia matérias de manhã e algumas a noite, queria acabar logo e começar a trabalhar. Mas quando eu chegava em casa, às crianças muitas das vezes já estavam dormindo. O meu mais velho eu ainda o via a tarde e pela manhã, mas o Nilton Junior  saía cedo e voltava à tarde, muitas vezes quando eles chegavam em casa eu já estava na faculdade. As tardes o Nilton Júnior ficava no trabalho com meu esposo, eu só o via pela manhã. Essa era a rotina da semana, nos sábados era tão corrido que eu quase não tirava tempo para ficar com eles, brincar com eles como eu fazia antes quando eles eram bebês. E ler um livro para eles era muito raro.
     Quando eu comecei a fazer faculdade o meu filho mais velho estava com quase 9 anos e o Nilton Junior com seis anos. Sabe anjos? Então, eu tenho, o meu esposo, ele se desdobrava para eu não me atrasar nas matérias da  faculdade. Ele fazia de tudo para chegar do trabalho antes do meu horário.  Ele sempre me apoiou a continuar estudando.
          Às vezes tinha sorte de  encontrar eles  no meio do caminho. O Junior vinha tão cansado com meu esposo, mais eles sempre me davam um sorriso lindo e um beijinho. O Junior dizia: - Tchau mãe vai com Deus. 
             Nada é fácil, não adianta acharmos que tudo é como imaginamos, sonhamos. 
     E finalmente eu tinha terminado todas as matérias, estava animada para fazer a colação. Mas meu filho Nilton Junior fazendo um teste para goleiro  fratura o ombro direito. Passa para o teste de goleiro, entretanto fratura o ombro direito. É importante que se isso acontecer com alguém, corre para o médico, sei que os hospitais públicos são precários, mas é importante fazer um raios-x, não fazer como eu tratar como se fosse uma pequena fratura.
      Eu me culpo, pois estava preocupada com as matérias, estágio, entre outras coisas. Assim que eles chegaram do treino, eu estava ocupada lendo alguma coisa e não dei muita importância no que o Júnior disse de estar com dor, fiquei feliz por ele ter passado, ele se questionou sobre a dor no ombro:
    - Mãe eu estou com meu ombro doendo?
     Eu olhei pra ele e disse: - Pega uma dipirona e toma. 
     E assim ele fez, tomou um banho, jantou e foi dormir. No dia seguinte, depois dele acordar, antes de se arrumar para a escola ele disse que estava com dor, eu voltei a dar a dipirona. E disse pra ele espera que a dor iria diminuir. Quando eu fui ajudar ele a tirar a roupa para tomar banho, pois ele estava com dificuldades em levantar o braço, me assustei com o ombro inchado.  
     Nunca imaginávamos que aquele inchaço era um tumor. Foram duas semanas tratando como se fosse uma fratura. Como no mesmo ano (2018), eu tinha torcido o pé e o inchaço saiu com compressas e dipirona pra dor, eu e o meu esposo imaginávamos que o ombro dele seria assim. Por isso que tratamos com dipirona e compressas, massagens, e gelol spray. Tentamos também salompas, mas nada fazia o ombro diminuir.
       Quando fizemos o raio-x, e o resultado deu tumoração, achávamos que era erro médico, depois que fizemos a ressonância magnética e ficamos sabendo do resultado, o mundo desabou, ficamos sem chão. O resultado foi um tumor no ombro direito, câncer (Osteossarcoma), o ortopedista que viu a ressonância pediu para corrermos logo se não iriamos perder o Nilton Junior.
    No primeiro momento eu tinha absoluta certeza que era erro médico, os médicos erram. Mas meu esposo tinha ficado meia hora com o ortopedista na sala. Eu repetia para o meu esposo:
  - Amor é engano, volta lá e pede pro médico olhar direito.
     Assim que eu entrei na sala do ortopedista que ele viu a ressonância ele pediu para eu ligar para o meu esposo e esperar na sala de espera com o meu filho, ele falaria somente com o meu esposo. Eu pensei que o Junior tinha quebrado o ombro, precisaria de uma cirurgia. Mas quando meu esposo chegou foram meia hora dentro do consultório. Eu sentada com o Junior agoniada com a demora na sala de espera, enquanto meu esposo estava na sala do ortopedista. Depois que meu esposo saiu do consultório o rosto dele era outro. Eu não entendia nada, meu esposo agradeceu e disse:
   - Vamos conversar ali (uma praça que tinha em frente à clínica).
     Saímos de mãos dadas. Sentamos em uns banquinhos e ali ele desabou. Eu precisava digerir, era um choque pra mim, para meu esposo e o Junior. Foi uma sensação de termos caindo em um buraco fundo, eu só via escuridão. A vontade era de voltar no ortopedista e dizer que ele estava enganado.
        Aquela quarta-feira foi um dos piores dias da nossa vida. A primeira coisa que veio a minha mente foi à perda do meu filho Nilton Junior. Choramos e nos abraçamos, sim eu perguntei a Deus porque isso. Meu filho Junior chegou em casa enquanto meu esposo falava da notícia para a minha sogra eu tentava consolar meu filho, ele me abraçou chorando e gritou:
- Mãe porque Deus fez isso, Por quê?!!
    A primeira pergunta dele pra mim foi “eu vou morrer mãe”?
     Foi uma situação triste demais, eu queria gritar, nunca fui forte, não me sinto forte, mas eu precisava ser forte, liguei para uma amiga da faculdade e falei com ela, ela me disse:
  - Rô, eu sinto muito minha amiga, não tenho palavras para te falar nesse momento, mais se controla na frente do seu filho, seja firme, se for desmoronar faça isso longe dele.
   Quando ela me disse isso, eu olhei para o lado e vi meu filho com os olhos em lágrimas, assustado, eu também estava em lágrimas, respirei limpei os meus olhos e o abracei. Falei com ele que estaríamos juntos, que nada de ruim iria acontecer e que Deus estaria com a gente, seremos fortes juntos.
    Foram dias de choro, parei de rezar, não quis falar com Deus naquele momento.
    Mas eu sabia que Deus estava ali com a gente, pois foi à mão de Deus que mostrou o tumor, se não fosse isso teríamos perdido nosso pequeno. Conseguimos tratamento, veio os exames e com a confirmação do tumor eu fiquei aliviada. Agora tínhamos que rezar para não ter metástases no pulmão. Eu estava aliviada porque ele assim que descobriu o tumor foi tudo correndo rápido, graças a Deus. Aos poucos fomos contando com o apoio dos nossos amigos que são anjos que Deus nos manda. Mas infelizmente o tumor chegou a fazer metástases, eu me preocupei, pesquisei na internet coisas que só pioraram a situação. Nunca vão procurar na internet, ela ajuda, mais também angustia demais.
   Pesquisei o tratamento para osteossarcoma metástico, as consequências do tratamento, entrei em desespero. Caí o cabelo, isso não nos preocupava, mais outras consequências mais sérias como os enjoos e a falta de apetite. Li também sobre amputação. Era muita coisa para digerir, por isso que o meu erro foi pesquisar na internet. Nesse momento estávamos tentando colar os cacos da nossa vida. Como seguir em frente depois do diagnóstico? E como ficaria a vida do meu filho?

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