Viver é um verbo que carrega uma bagagem de significado. É um verbo
intransitivo que significa: ter vida, continuar a existir, levar a vida. Também
é um transitivo direto: aproveitar a vida no que há de melhor. A melhor
característica que cabe nesse contexto é "aproveitar a vida no que há de
melhor", aproveitar o hoje, viver o hoje. E por mais que a vida nos mostre
o contrário devemos ser firme e sempre acreditar que apesar das tribulações
algo de bom virá, pensar positivo.
Viver o câncer no começo não foi fácil é difícil demais. Antes de termos
o diagnóstico e do acompanhamento com oncologista quando estávamos correndo
atrás da ressonância magnética, já que para criança na idade de 10 anos em
muitos lugares não faziam e muito menos com contraste (é um medicamento
injetado via acesso para realçar as lesões), eu pensei que o preço da ressonância
tivesse um valor acessível, e não era. Ás vezes eu penso que Deus prepara tudo,
mas somos tão apressados, queremos pra agora, não sabemos esperar. Ele envia
pessoas para nos ajudar, essas pessoas são anjos que apareceram na nossa vida.
O que nos deixava desesperados era a demora de fazer a ressonância. Depois que
passamos pelo ortopedista no meio de outubro e ficamos sabendo da tumoração,
tentamos a ressonância. Demorou um pouco encontrar o local que tivesse um preço acessível.
Enquanto estávamos tentando o Nilton Junior estava sem condições de ir a
escola, a dipirona não era suficiente, a noite para dormir era de doer a alma.
Ele não dormia, passava a noite sentado na cama segurando o braço.
A ressonância: quem
imaginava que ele passaria por esse exame duas vezes. A primeira vez que
fizemos a ressonância no centro da cidade numa quarta feira à noite, ele chorou
ao olhar um treco diferente e barulhento. O exame demoraria quinze dias, mas
dez dias depois do exame a recepcionista me liga e pede para repetir o exame,
dizendo que eu não pagaria nada e que houve um erro nas imagens. Marcamos para
ir no sábado repetiu o exame e pegamos o exame. Depois do feriado voltamos ao
ortopedista e ele nos deu o diagnóstico de que o Junior estava com câncer. Eu
não desconfiei da repetição da ressonância, mais as duas imagens estava no
envelope do exame, depois que a gente acorda e percebi que a repetição do exame
era para confirmar a suspeita do tumor.
Só dipirona não era suficiente, mas enquanto não soubessem o tipo
de câncer não poderiam passar o remédio. Quando ele fez a biópsia para poder diagnosticar
o tipo de tumor e poder iniciar o tratamento. A dor no ombro dele aumentou
nossa senhora! Eu me segurava para não chorar na frente dele, o braço dele
ficou vermelho, era de doer vê-lo assim. Mas ele já tinha começado tomar remédio
pra dor. Eu sempre me pergunto de onde vem a minha força? Porque se não fosse
Deus eu acho que estaria louca. É tudo um grande e longo processo de aceitação
tanto pra mim quanto para o Nilton Junior. Eu ainda estava afastada das
orações, o Junior não aceitava ouvir o nome de Deus.
Não era por que eu não acreditava mais em Deus ou tinha perdido a
minha fé, eu estava em choque, tudo foi muito rápido. É muita coisa para
associar e raciocinar, mesmo as pessoas me dizendo que Deus estava ali, que foi
Deus que mostrou eu estava triste por ser meu filho, ele estava tão bem com
seus sonhos sendo preparado. Então não adiantava naquele momento eu ouvir
nenhuma palavra.
O tratamento quimioterápico: Ouvir que o Junior teria enjoos, ferimentos
na boca, os cabelos iriam cair, os pelos dos cílios e das sobrancelhas não foi pra
gente. Imaginar e vê é muito diferente do real, da prática, Foi um choque, eu
olhava para o Junior e a minha vontade era de chorar. Era uma vida muito dolorosa que ele teria que
ser forte, aguentar firme para se sair bem e ser um grande guerreiro, mas o
caminho era muito longo e dolorido. Eu estava desmoronando por dentro só de
pensar. No banheiro na hora do banho era o meu momento. Ali, sozinha sem dizer
uma palavra, com a água do chuveiro caindo para fazer companhia as minhas
lágrimas.
O humor do Junior foi piorando, ele pedia pra Deus levar ele logo.
Eu me segurava pra não chorar na frente dele, apenas o abraçava e dizia que
logo essa fase iria passar, mas ele falava mais alto que eu:
- É fácil pra senhora dizer isso, não é você que está passando por
isso.
Ele
passou a dormir comigo na cama, ficava inseguro de dormir sozinho. E as noites
eram longas. Eu mesmo não me ajoelhando e rezando, suplicar a Deus, eu pedia a
Ele somente forças:
-
Senhor dai-nos forças, por favor.
Quando
veio os enjoos, ele não conseguia se segurar e toda vez que ele vomitava pedia
desculpas.
-
Desculpas, eu não consegui me segurar.
Eu
não sei de onde tirava um sorriso e dizia pra ele;
-
Meu amor não tem problema.
O
bom que Deus não nos deixa jamais sozinhos, ele nos envia pessoas lindas pra
nos dá forças, palavras de carinho, dicas de como agir durante os enjoos as
feridas na boca. A mudança na alimentação, comer coisas saudáveis menos
besteiras principalmente em locais públicos.